Kiss em São Paulo

Antes de mais nada, quero deixar aqui a minha declaração de amor incondicional ao Kiss.

Tá que, eu sempre soube, o show do Kiss é algo que não dá pra morrer sem ver. E ainda digo mais: não precisa nem gostar da banda pra sair de lá totalmente embasbacado e maravilhado. Mas putaqueopariu. Não dá nem pra fazer idéia do que é sem estar lá, sem ver de perto.

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Eu bem gostava do Dr. Sin, mas desde que Busic e cia. preferiram o pó à música, a banda veio degringolando bastante e o show já não é mais aqueeela coisa. Pra piorar a situação, a T4F (grupo Ticketmaster), como sempre, deu um show de incompetência em organização e eu acabei perdendo o show do Dr. Sin quase todo. Tive a impressão de ter ouvido Isolated lá de fora, mas nem dava pra ter certeza. Mas este post não se trata do Dr. Sin ou da minha revolta contra a T4F/Ticketmaster. Trata-se de um espetáculo maravilhoso e fantástico chamado Show do Kiss. E ali o Dr. Sin era apenas uma banda de abertura. E eu vi o show do deles com impaciência.

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Passei o dia inteiro sem comer de tanta ansiedade. O estômago cheio de borboletas, o ar entrando esquisito nos pulmões. E, visivelmente, eu não era a única ali. De trinta e tantos mil ingressos, digo com bastante nível de certeza, só uns quarenta ou cinqüenta foram daqueles curiosos-que-já-ouviram-falar-mas-não-sabem-direito-o-que-é-a-banda. De resto, o Kiss Army brasileiro em peso estava lá. Onde quer que você olhasse, rostos pintados por todos os lados. Como de costume, a maquiagem de estrelinha de Paul Stanley era a mais popular de todas. Não lembro de ter visto nenhum Peter Criss – mas afinal, nem o Peter Criss quer ser o Peter Criss, não é mesmo?

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Enfim, “Futebol, Mulher e Rock ‘n’ Roll”: o show do Dr. Sin estava no final! Andria Busic, o vocalista, até tentava fingir que a noite era deles. Agradecia aos fãs por acompanhá-los em tantos anos de carreira, fazia propaganda do CD… Mas eles estavam lá pra abrir pro Kiss. E nós estávamos lá para ver o Kiss. E enquanto Busic ainda falava, o Exército bradava em uníssono: “Kiss! Kiss! Kiss! Kiss! Kiss!

Intervalo. Última chance de comer algo, beber uma água e usar o banheiro. A ficha, enfim, caiu: eu estava prestes a ver o show do Kiss. Depois de engolir uma mini-pizza superfaturada e torcer minha bexiga para que não sobrasse uma gota sequer dentro dela, fui procurar um lugar pra sentar e esperar o show começar.

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A platéia grita. O bandeirão é estendido. Um arrepio sobe do dedo mindinho até a nuca. “You wanted the best…” Era verdade, afinal.“…You’ve got the best!…”…Não era um sonho nem uma pegadinha… “…The hottest band in the world…” Era o motherfucking show do… “…KISS!”

A bandeira caiu. A platéia gritou. Bolas de fogo explodiram no palco. Eles estavam lá. E eu podia ver cada um deles… Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss. Não tinha quem me convencesse de que não eram eles ali no palco.

A partir dali, eu estava sozinha. Em êxtase. Em nirvana. O coração pulsava no ritmo do bumbo, os olhos cheios d’água. A respiração difícil, tirei o lenço do pescoço. Fogos coloridos explodiam no ritmo da música, tudo ali na minha frente. De repente, eu estava dançando. O corpo mexia-se sozinho, ignorando as ordens da cabeça que queria ficar vendo e gravando na memória cada segundo daquele concerto fantástico. E aí eu me entreguei de uma vez por todas à delícia que é ver um show do Kiss.

Não me pergunte o setlist. Não me pergunte o que eles disseram. Eu estava em transe. Atrás de mim, na pista normal, pessoas que chegaram às nove da manhã esmagavam-se contra a grade. Eu que não sou boba, juntei mais dinheiro e comprei o ingresso há mais tempo para a pista VIP. E eu estava vendo o Kiss ali, de pertinho. O palco inteiro. Os quatro telões. Os quatro cavaleiros do apocalipse. O Kiss!

E aí veio a hora dos solos. E aí que, só então, acreditei de verdade… Não eram Peter Criss nem Ace Frehley que estavam ali. Tommy Thayer, apesar de ser um excelente guitarrista, não é o Ace Frehley. Eric Singer, no entanto, provou por a+b porque nem o Peter Criss quer ser o Peter Criss.

E aí veio Rock And Roll All Night. E uma chuva de papel picado saiu de diversos lugares diferentes da Arena. E Gene Simmons vomitou sangue. E eles tocaram I Was Made For Loving you e eu saí furando a multidão, porque tudo o que eu queria era estar mais perto. E Paul Stanley quebrou uma guitarra. E fogos de artifício de diversas cores dançavam no ritmo da música. E Genne Simmons voou e começou a tocar seu baixo de machado lá em cima do palco, numa plataforma de metal. E Paul Stanley pediu ao Exército que gritasse seu nome e deslizou com guitarra e tudo sobre nossas cabeças. E eles se despediram e o show acabou. E eles voltaram ao palco com a bandeira do Brasil na mão e disseram que também não estavam com vontade de ir embora. E eles tocaram Detroit Rock City e eu morri.

Eu nem sei direito o que aconteceu, de verdade. Eu poderia passar o resto dos meus dias ali, vendo o Kiss. E depois que o show acabou, não me incomodaria de morrer atropelada ou se um disco voador caísse bem em cima da minha cabeça. Eu tinha visto o Kiss. E eu estava em êxtase, andando a um ou dois palmos de distância do chão. Algumas pessoas conversavam, faziam comentários breves entre si… Mas a maior parte das pessoas estava como eu: maravilhada, extasiada e em silêncio.

Voltei pra casa, ainda meio sem acreditar. Mas é verdade, senhoras e senhores! Eu estava lá. E eu comemorei trinta e cinco anos de carreira junto com o Kiss.

Já posso morrer em paz.

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