Mês: julho 2017
O “Tudo”
A única coisa que, de fato, sabemos sobre a origem da existência é que quando a primeira pessoa de quem pudemos ouvir relatos chegou, Tudo já estava aí.
Religiões e ciência tentam explicar de diversas formas – umas mais e outras menos convincentes – mas, no final das contas, é o que cada um decide acreditar e levar pra si que terá mais peso e valor na hora de suas próprias decisões e, mais ainda, sempre haverá um vestígio de incerteza, um certo investimento de fé e a esperança crente que, de fato, aquilo que estamos vendo são, de fato, indícios reais, respostas verdadeiras e definitivas para aquilo que estamos buscando.
fato3substantivo masculino
- ação ou coisa feita, ocorrida ou em processo de realização.
“não se deu conta desse f.”- algo cuja existência pode ser constatada de modo indiscutível; verdade.
“o controle da poliomielite é agora um f.”
“O que chamamos rosa, sob uma outra designação
teria igual perfume. (…) Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.”ROMEU E JULIETA, ATO II, Cena II
“Esta é a criação do mundo, que a dor da divisão é como nada e o prazer da dissolução, tudo.” AL I:30
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Qual o sentido da vida? A que caralho viemos? Qual nosso “propósito maior”?
Esta pergunta, na verdade, além de nitidamente capciosa, tem também muitas interpretações possíveis.
O sentido de “missão” nos afeta em diversos âmbitos, seja se referindo a uma “missão primordial”, o propósito maior da existência per se, quanto, de uma forma mais objetiva, nosso papel dentro da sociedade, nossa “utilidade”, por assim dizer.
Qual a nossa função? Quais os nossos principais talentos?
Se conhecer é uma tarefa árdua e nossa tendência ao pessimismo – e toda a construção social em torno da necessidade e da admiração da qualidade da modéstia – nos leva a perceber e ressaltar antes as nossas falhas que nossas qualidades. Vemos nossos defeitos, mas ainda não nos enxergamos como indivíduos, como inteiros ou parte de um todo. E diante de tais defeitos, nos sentimos culpados e nos punimos. Tememos. Hesitamos.
À primeira percepção de que somos falhos, é quando iniciam os ciclos de auto-sabotagem que muito custarão a cessar. E entramos num ciclo vicioso de isolar-mo-nos do todo por medo de uma não-aceitação (de si e do outro). Um medo constante de “não pertencer” que faz com que evitemos esse pertencimento a todo e qualquer custo.
Mas antes de discorrer por esse caminho, é interessante ter um conceito do que é esse “todo”.
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída;(…) a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano.”
John Donne, Meditações VII