Atração, aceitação, édipo.

Aprendemos a espelhar comportamentos com aqueles que temos ao nosso redor.

O adulto sabe onde conseguir comida e como lidar com todas aquelas questões e, por isto, os vemos como deuses. A mãe, em particular, é aquela que nos trouxe o alimento pela primeira vez. Ela mesma produziu aquilo, portanto só pode ser “uma manifestação de Deus”.

A diferença entre apego e atração sexual só vem com a maturidade. O sexo seria uma busca pelo conforto materno. Buscamos alguém que cuide, alimente, nutra, proteja. Buscamos uma relação ideal de pai e mãe; solucionar questões (não necessariamente sexuais) com nossos parceiros.

Assim como tudo; assim como a raiva; aprendemos a sentir por aqueles que estiverem perto. Na construção social atual, trata-se da família próxima e tal identificação normalmente será por aqueles que estiverem próximos e em “um posto hierárquico mais alto”.

Antes da atração, há o desejo por aceitação.

Luto X Culpa

Seria tudo embasado na culpa? Ou, mais ainda, no medo da culpa?

Se a culpa é originada no medo da perda do amor dos pais – que levaria à própria morte, o abandono e a privação dos recursos mais básicos (sustentação, nutrição, proteção) – o medo de sentir-se tão fragilizado poderia ser a “fonte de tudo” e, talvez, o medo da liberdade seja exatamente uma evasão de responsabilidade, pois uma vez que somos responsáveis, estamos suscetíveis à culpa – desapontaremos nossos pais que cessarão de nos prover.

O medo de nos livrar do sofrimento, portanto, seria porque por mais doloroso que seja aquele sentimento, ele ainda é familiar e nos mantém próximos do objeto da perda.

Ao investir a libido e a atenção a outrem, delega-se também parte da responsabilidade por si mesmo. “Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas.” (EXUPÉRY, S.)

Mesmo quando o sentimento não é recíproco, há uma motivação existencial pelo afeto investido. Quando gosto de algo ou admiro alguém, mesmo um total desconhecido, aquele passa a ser um elemento motivacional para mim: “faço, pois fulanx ficaria orgulhosx”. A partir daí, as escolhas são pautadas na percepção que temos do outro, tornando o peso da responsabilidade aparentemente menor, pois não foi baseado apenas na sua vontade. Entra um senso moral – este que traz imediatamente um alívio da culpa: “fiz o que era melhor pro meu objeto de afeto.”

A retroalimentação do luto.

Temos medo de perder o sentimento familiar. Medo de enfrentar o desconhecido à frente. À medida que o processo vai evoluindo e nos afastamos (desinvestimos a libido) do objeto da perda, nos sentimos ansiosos e temerosos, por um futuro sem aquele determinado problema – a dor, a mágoa, o rancor… – ser demasiado distante daquilo que conhecemos e temos por seguro.

Ao imaginar-se livre de uma neurose qualquer, assim como uma mágoa, fobia, ou qualquer tipo de limitação, há um reconhecimento de que…

  1. não há mais motivos para o sofrimento, então seremos livres e felizes – “e pode ser que eu não seja e talvez o problema seja outro, muito mais profundo e que não ouso ter coragem de enfrentar…”;
  2. “não posso falhar em ser feliz”
  3. “Agora preciso assumir a responsabilidade.”

O luto tem um sistema de retroalimentação porque quando ele vai embora, sentimos falta do sentimento ao qual já estamos acostumados.

Apego, afeto, libido, luto.

E aí que um golpe da vida nos causa uma cisão, uma ruptura. E todo rompimento traz consigo um processo de luto que, como perfeitamente descrito por Kubler-Ross, tem vários estágios, altos e baixos, momentos de desespero intercalados com momentos de calmaria.

Segundo Freud, superar esse processo significa reinvestir essa libido em outra coisa, “mandar essa energia pra outro lugar”. E nisto me vejo buscando outros objetos pra esse afeto, canalizando o sentimento em outra coisa, transferindo para quem não necessariamente merece este afeto e/ou é digno de minha atenção.

Ou, às vezes, o é. Mas ainda assim, é um objeto ao qual aquele afeto não pertence, e então nos vemos com um apego exagerado a algo ou alguém, pois juntamos todos os afetos do turbilhão de emoções e canalizamos em uma só válvula de escape.

É o caso de quando inventamos relacionamentos. Construímos imagens mentais de pessoas irreais, impossíveis, e nos apegamos a tais imagens não tanto pelo que elas são, mas por todo o afeto contido e mal-canalizado de tantas questões que nos tirariam a paz. Ficamos obcecados, pois manter apenas uma obsessão parece mais simples e prazeroso que lidar com quaisquer das outras questões aflitivas em nossas vidas.